Em 2001, em artigo publicado no periódico On The Horizon, sob o título “DigitalNatives, Digital Immigrants”, Marc Prensky introduziu o conceito de nativos digitais, contrapondo-o ao de imigrante digital.

Por outro lado, haveria os imigrantes digitais (non-millennials), indivíduos que, ainda que não sejam necessariamente luditas, que não saiam por aí quebrando computadores, seriam incapazes de aprender e ensinar como os nativos.
Em seu artigo, Prensky discute a necessidade dos professores, imigrantes digitais, reformularem suas metodologias, suas práticas em sala de aula. Sustenta essa posição sob a alegação de que os professores não teriam perícia suficiente para lidar com as tecnologias digitais.
Dan Pontefract, em post recente no seu blog Trainingwreck, considera que embora esses “nativos” possam ser mais espertos do que os indivíduos da geração que os antecedera, os filhos da geração Baby Boomer, necessariamente não preferem aprender de uma forma totalmente digital.
No post, que tem o título The Fallacy of Digital Natives, ele considera que os indivíduos mais velhos, aqueles que seriam pois imigrantes digitais, podem estar usando usando a tecnologia para alterar os seus estilos de aprendizagem da mesma forma.
Dan Pontefract é enfático, aprendizagem e tecnologia nada têm a ver com o fosso geracional.
De forma similar, Siva Vaidhyanathan, em um ensaio sobre o mito das gerações [Generational Myth], destaca que nem todas as pessoas mais jovens são experts em tecnologia. E é enfático: não existe essa coisa de geração digital.
Em artigo publicado, em 2008, no British Journal of Educational Technology, Sue Bennett, Karl Maton and Lisa Kervin chamam a atenção para o fato de que, embora os chamados “Millennials” vivam cercados por tecnologia, como outras gerações, sua utilização para a aprendizagem não é uniforme. Segundo os autores, não haveria evidências de um estilo de aprendizagem muito diferente do que se viu antes.
Uma pesquisa recente, realizada na Open University, na Inglaterra, sobre o uso de tecnologias por estudantes mais velhos, na educação a distância, pode contribuir para derrubar as ideias de Prensky e Tapscott.
A pequisa revela que, ainda que existam diferenças marcantes entre as pessoas mais velhas e as mais jovens, não há qualquer evidência de uma clara ruptura entre essas duas “populações” separadas.
Entendemos que existem algumas questões que precisam ser trazidas para o debate, em especial para onde se formam professores, seja na graduação, seja na pós-graduação.
- Há de fato esse fosso tão marcado?
- Poderia o reconhecimento dessa diferença servircomo desculpa de professores para não integrarem as tecnologias digitais em suas práticas?
- Mas se de fato existe esse fosso, como fazer com que os professores “imigrantes digitais” possam incorporar as tecnologias em suas práticas?
- Como, em suas salas de aulas, os “imigrantes”, não dados às tecnologias digitais, ensinarão os “nativos”?
- Teremos que esperar que uma nova geração de “professores nativos” chegue à escola?
- De que forma os cursos de formação inicial, cujos corpos docentes estão essencialmente formados por “imigrantes digitais”, prepararão as futuras gerações de professores?
- Enquanto isso, como fica a escola?
Essas são questões para discussão na próxima aula da disciplina “Tecnologias digitais, currículo e práticas pedagógicas”, no dia 22 de novembro, terça-feira.
Os textos base na preparação para a discussão são os que estão “linkados” neste post.
"Nativos digitais" e "imigrantes digitais" são conceitos provocadores, que têm gerado boas reflexões a respeito da utilização de tecnologias digitais na escola. Não sou radical ao ponto de considerar esse assunto uma falácia, mas acredito na existência de certo exagero,quando se toma, como referência, as idéias de Prensky, para explicar as diferenças de desempenho das pessoas nesse campo,de conformidade com as faixas etárias.São vários os fatores que limitaram e ainda limitam o acesso das pessoas a essas tecnologias, o que coloca em segundo plano essa relação entre época de nascimento e habilidades na utilização do computador. Espedita
ResponderExcluirUm risco embutido nos conceitos propostos por Prensky está exatamente ao se delimitar o usuário pela faixa etária.
ResponderExcluirNotadamente no caso do Brasil, são muitos os jovens que não crescem como nativos digitais.Há um fosso, por oportunidades econômicas e sociais, que separa indivíduos que estariam em uma mesma categoria, a dos nativos.
Por outro lado, não será a idade que definirá os tipos. Existem pessoas que, pela idade, seriam imigrantes, mas que dominam as tecnologias digitais não raro em plano superior ao de muitos nativos. Por isso, me seduz mais a proposta de John Palfrey e Urs Gasser, em seu livro "Born digital: understanding the first generation od digital natives", de falar em populações ao invés de gerações, o que é, afinal, a proposta de Marc Prensky e de Dan Tapscott.